Lá em Itapoã

Era uma moço sútil, com olhar ameno de tristeza e um andar calmo que inspirava uma segurança desestruturada. O lugar era Itapoã, onde sempre fazia um sol à tarde, um sol gostoso que deixava a pele a vontade. As pessoas transitavam na avenida como se transitassem por meio dele, como se todos aqueles lhe fossem raros e conseguissem passar o olho em sua alma expostas pelo sol amigo.

Na verdade estava indo banhar-se, refrescar todo aquela rotina que impregnava seu corpo como um poluente que não combinava com nenhum elemento da tabela períodica. E ao chegar, o êxtase de contemplar a imensidão do mar. Parece sempre a primeira vez: ele chega, encosta, vira-se para encarar o mar azul e movendo-se como uma estátua via todos seus amores passarem por ali.

Esses amores são carregados: uns mais leves que necessitavam de mão-de-obra menos complexa, como a luxúria que trabalha dia e noite sem parar, pois faz questão de estar presente. Outras, porém, tem o peso de uma tonelada, e passam devagar, com detalhes fisícos explicítos e eram carregados, geralmente, pelo amor. Que, diga-se de passagem, é um ótimo carregador mas cobra muito caro.

Passado o movimento nostálgico da frustação, o moço encaminhava-se para o bar com o intuito de beber todas as suas verdes águas ardentes que pareciam esperar o seu mais fervoroso fã. A barraca era um pouco mais elevada que as outras, lá era possível sentir o vento de uma forma mais consistente e ter uma visão melhor do arco-íris que se formava naquele fim de tarde. Não porque era aquele dia, mas porque havia chovido lá, e o sol veio logo em seguida.

Depois ia sempre beber debaixo dos coqueirais que para ele eram responsáveis por uma paz a qual ele não conseguia exprimir em palavras. O que ele não sabia é que não eram os coqueiros os responsáveis, mas sua falta de sobriedade que começava a gritar.

O sol se punha e com ele todo o desejo do inédito que o moço sempre esperava. Suas expectativas eram ofuscadas pela ambiguidade do lugar, que representava seu mais claro gozo de medo: o de nunca conseguir sair de Itapoã.

0 comentários:

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Premium Wordpress Themes