Ensaio "A morte de Ivan Ilicht"




Livro: A morte de Ivan Ilich

Autor: Leon Tolstoi

Ano: 1889

Coleção L&PM Pocket: 1997


Sinceramente não sei o que faço com a literatura! A infinidade de títulos essenciais para leitura, como disse, é infinita. Sempre há alguém que comenta que leu tal livro e que é muito bom, profundo, etc. E naquele momento, a vontade de ler aquela indicação é enorme. Pensar em permear um outro universo montando exclusivamente com a pretensão enriquecer, de alguma forma, o leitor. Ou seja, quando você lê um livro, aquele autor está escrevendo para você. O problema que ler um livro hoje é uma raridade, alguns não lêem porque não gostam, outros não lêem porque não sabem como fazê-lo, mas a pior sensação é não ler por não ter tempo.

É por isto que se deve ficar feliz quando você tem a obrigação de ler um livro para a faculdade, por exemplo. Assim você acaba encaixando a leitura em seu tempo, pois neste momento um bem básico entra em ação: a necessidade. Seja por necessidade seja por prazer a literatura russa, desde o século XVII, tem como peculiaridade tragédias que geram uma real percepção da sociedade. Não seria diferente com um clássico como a A morte de Ivan Ilitch, que comecei a ler pelo dever e prossegui e terminei com deleite.

O título de já desmistifica uma suposta tentativa do autor de surpreender o leitor. A linguagem utilizada por um narrador onisciente é moldada por este autor de renome mundial: Conde Leon Nikolaievitch Tolstoi (1828-1920). Esse, em sua novela A morte de Ivan Ilictch, faz mão de sua genialidade e utiliza da consternação e a dor de um burocrata anódino com o intuito de retratar com destreza e peculiaridade a dor que permeia os a morte, destino certo de todos nós.

A narrativa de é feita com o recurso de flashback. A primeira notícia é a que Ivan Ilitch morreu. Em sua casa se passa o funeral. Com um ar trágico e real Tolstoi nos leva a investigar a vida do então Juiz no Tribunal de Relações, através de sua por morte.

Em seu funeral estão presentes todos aqueles de fizeram parte de sua vida e/ou também aqueles que tinham alguma intenção maior que velar pelo defunto. De fato, velórios são encobertos por peculiaridades com propósitos egoístas e mesquinhos que todos nós fazemos questão de renegar. Tal fato é claro, principalmente, nas classes burguesas de todo o mundo: há fatos e pensamentos que não devem ser discutidos, caso contrário eles voltarão contra aquilo que lhes dá estrutura, a imagem.

O livro de Tolstoi se aproxima das características do Jornalismo Literário. Apesar de ainda serem separados pelo atributo de que, mesmo literário, o jornalismo utiliza fatos ficcionais para montar seu discurso.

Este modo de fazer jornalismo não segue os padrões tradicionais de reportagem como o lead ou a linguagem objetiva usada para os jornais de noticias diário. No jornalismo literário existe uma preocupação com a construção cena a cena do fato narrado. No livro de Tolstoi pode-se notar que todos os lugares aos quais Ivan Ilitch passou, até chegar a seu leito de morte no quarto dos fundos de sua própria casa, são descritos de maneira que o leitor possa imaginá-los e assim compor de forma mais consistente o entrelace de cenas e de fatos que rodeiam a história.

Há ainda o uso de diálogos que são pertinentes tanto a obra quando ao fazer jornalístico literário que tornam a leitura mais prazerosa e menos cansativa. Desta maneira, os autores/jornalistas conseguem, além dos últimos dois fatores citados, um maior poder de persuasão. Além disto, o uso de diálogos gera maior profundidade para os personagens. Na obra, é fácil notar os maneirismos e qualidades do personagem principal através de sua fala com sua esposa nas diferentes fases que sua vida.

Outro fator que enriquece a narrativa é o uso constante da descrição de gestos e sensações, desta maneira, o autor consegue levar seu leitor para mais próximo dos personagens. Este fator Wolfe denomina como “status da vida” (Wolfe, 1976, p.51).

Todos estes fatores estão diretamente relacionados com o estilo literário presente na obra, o realismo. Surgido para combater a formalidade e as hipérboles do romantismo, o realismo literário como estrutura relatar o ser humano em sua totalidade e sem distorções.

Além disso, o textos realistas apresentam-se de forma direta sem prolixidade, mostra certa frieza quanto as relações amorosas e leva em consideração três segmentos que fazem parte da construção dos personagens: a hereditariedade (que explica as tendências, os caracteres e as patologias), o meio (capaz de determinar o comportamento) e o momento histórico (responsável pelas ideologias).

Ainda Tolstoi explicita que a dualidade que é intrínseca ao homem moderno tem termino concretizado quando esse homem se depara com a morte. Ivan Ilitch expõe toda a frustração ao mostra-se insatisfeito com seu fim, por sua vez demonstra toda sua amargura que, na verdade, é o véu exposto de seu medo perante seu fim. Com diria o filosofo Guatarri a subjetividade é um constante processo o qual está exposto a todo as forças externas ao sujeito.

Ao mesmo tempo vê-se que não há derrotas e nem méritos adquiridos ao longo dos anos sejam fatos de salvação da brutalidade perene que é a morte anunciada. Ilitch sofre, geme, briga e sonha. Independente das mais terríveis sensações de dor e angústia ele ousava sonhar, pois afinal de contas era a única que coisa que lhe trazia um pouco de prazer dada à conjuntura. Existe uma velha história grega que conta que a última e pior peste que saiu da caixa de Pandora e infectou o homem, foi a esperança.

Uma excelente novela que retrata não só a sociedade burguesa da Rússia no século XVII, mas, fundamentalmente, o desespero do ser humano perante o desconhecido e inevitável.


1 comentários:

Unknown disse...

viny! um pouquinhu grande neh!!? mas muito bom!! comecou o ano muito bem!!
até

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